segunda-feira, 19 de junho de 2023

Ser...

Quando seu corpo adoece você procura um médico. Quando sua mente adoece, não seria diferente, e lá fui eu... Como quem esperava o próprio parto, impacientemente esperei meu nome ser chamado, e então saí (entrei), fui bem atendido, diferente do parto, não chorei, ansiedade.
Me foi dito que pra sarar eu precisava ser menos como eu sempre fui, desde o parto, e agora precisava ser tralina — "Tá bom né, vou tentar."
Comecei então a ser tralina, realmente é algo incrível, um anestésico pra mente, quem diria que isso sequer existia, que mudança, de repente tudo era tolerável. Mundo louco, né? Fome, miséria, mortes, desespero, genocídios diários... Foda-se, agora eu era tralina. Obviamente eu continuava vendo tudo isso, não tinha ficado burro, só não ligava mais, de repente se alienar era muito fácil, porque agora eu era tralina.

Fantasia comprimida.

Foi um mês sendo tralina, até que acabou (a cartela). Eu já não era mais tralina, e o mundo real já chamava de novo, eu podia esperar por outro parto ou voltar a ser eu.
Seria bonito dizer que depois de pensar muito no assunto eu escolhi a melhor opção e vivi feliz para sempre, mas fantasia não existe, nem a induzida por comprimidos.

Eu não quero ser tralina, eu quero ser Izaque.

A sociedade vive fugindo de seus próprios problemas, parece ser mais fácil do que resolver tudo... e por fim, depois de pensar um pouco no assunto (agora sim hahahaha), você conclui que quem está doente não é só você, você percebe que você é só o produto do resto de uma sociedade tóxica que nós mesmos parimos. Pois é... já tá na hora de abortá-la e renascê-la, mas a galera não gosta desses temas polêmicos, preferem ser tralina.

Pois eu não.

Banksy (2003)


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