quarta-feira, 19 de julho de 2023

Descarto

Penso, logo existo ou Penso, portanto sou. Traduza como quiser.

Breves e famosas palavras do francês René Descartes, sempre nos fazem pensar (que ironia!) e refletir.

Ah René! Se tivesse nascido mais à sudoeste, entre as bananas desta República, seria facilmente chamado de "seu Renê" e dificilmente teria o luxo de poder pensar se existe ou não, afinal teria que passar mais tempo tentando existir do que pensando. "Renê - funilaria e pintura automotiva", eu arrisco. Pensando bem, até que soa legal.

Então seu Renê, quando eu nasci, supostamente ganhei a vida, e por um tempo foi verdade. Enquanto eu não pensava, só reagia, eu vivi (ou me iludi), mas aí te conheci. Então não bastava mais só viver, eu tinha que existir também. E pensei. E pensei. E pensei mais um pouco. E continuo pensando. E sei que quanto mais penso mais certeza eu tenho da minha existência, não é que você estava certo, afinal?

O problema, seu Renê, é que também sei cada vez mais que eu SÓ existo. No mundo que herdamos de vocês, Clássicos, pensar é o nosso último refúgio ante a rotina de passar todo o tempo que temos construindo pontes para o pote de ouro no fim do arco-íris, só pra vermos outros atravessá-las.

Acontece que existir sem viver é algo bem triste, e a maioria de nós está tão acostumado a isso que passa a vida toda só existindo, e uns até desenvolveram a capacidade de existir sem nem mesmo pensar. Veja só, que avanço!

Por isso, seu Renê, me perdoe pela cretinice da mudança que farei em seus dizeres, mas ela é necessária.

Penso, portanto sou triste.

Penso, logo desisto.

Traduza como quiser.

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