segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Resignação

Há coisas na vida que são inevitáveis, incontáveis, como a direção que corre um rio, como a gravidade que tudo atrai, coisas que são uma força invisível da natureza.

Algumas dessas coisas nos incomodam profundamente, mexem desagradavelmente em nosso âmago, são como fel amargo no fundo do palato, e nos fazem sofrer, pois não há muito que podemos fazer.

Ante ao inevitável fazemos aquilo que podemos, em completo desespero, numa busca absurda por controle, e nem ao menos cogitamos que não dá pra se controlar tudo.

É difícil aceitar que algumas coisas simplesmente nos escapam, e se pararmos pra pensar  na verdade não temos poder ou controle sobre a maioria das coisas no mundo, se tiver de chover, choverá, se tiver de ventar, ventará, se tiver de morrer, morrerá.

Do desespero surgem nossas crenças, afinal se não podemos fazer algo a respeito, em algum lugar deve haver alguém que possa, e então rezamos, pedimos o absurdo ao Absurdo. E assim nos iludimos, continuamos sujeitos ao acaso, mas com a ilusão de controle, ainda que mínimo, preferimos esperar o Absurdo.

Esperamos enquanto o Absurdo ri em silêncio, observando atentamente o desespero dos tolos, fiéis à sua imagem e ilusão.

Quando vamos nos libertar da ilusão de controle? Aceitar que algo não nos compete é o primeiro passo para a verdadeira paz de espírito, aceitar que algumas coisas apenas o são, se libertar do desespero e resignar-se, continuando a fazer a única coisa que podemos fazer: viver nosso melhor dentro dos melhores e piores que surgirem.

2 comentários:

  1. "pedimos o absurdo ao Absurdo"... "fiéis a sua imagem e ilusão"... Sutis e profundas em significado!

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    1. Oh my goddess, você ainda frequenta este lugar empoeirado?! 🖤

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