quarta-feira, 16 de março de 2022

Aspas

Uma eternidade se passou até que fomos encarnados e acorrentados à matéria.

Nascidos, porém não vivos, fomos jogados ao mundo chamado de moderno, onde, salvo raros casos de privilegiados, nos deram só um terço de todo tempo para "viver", chamaram isso de status quo, sinônimo pomposo para prisão.

É essencial para uma boa "vida" que você durma um terço das suas horas, do contrário você terá menos horas para "viver", parece estranho (e é), mas essa é a ordem natural do mundo moderno. 

O segundo terço nós deveremos passar servindo à um mestre perverso e oculto, ele não nos ama, ele não nos odeia, ele simplesmente não liga para nossa existência, mas nós deveremos servi-lo mesmo assim, do contrário nós não ganharemos seu "favor" e poderemos deixar de "viver" por falta disso. Há muitas formas de encurtar nossa "vida", a fome talvez sendo a mais popular e cruel delas. E essa é a ordem não natural do mundo moderno.

Então nos sobra o último terço, esse sim é a nossa "glória", nele somos "livres" para fazermos o que quisermos, claro que esse último terço não é a prioridade do mundo moderno, ele acontecerá quase sempre no horário menos importante para nosso perverso mestre, ao qual chamaram de noite, e que parte acaba acontecendo concomitantemente com o primeiro terço.

E agora é quando nos perguntamos sobre os raros privilegiados, também conhecidos como amigos do mestre perverso: eles são imunes a todo o segundo terço, ganham os "favores" do mestre às custas dos nossos segundos terços, "vivemos" para que vivam.

Agora vamos lá "viver" felizes até o fim de sempre.

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